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A inovação na indústria não depende apenas da transformação digital, mas também da diversidade e sustentabilidade

Cláudia de Castro Lima / 17 mar 2022
O 9º Congresso de Inovação aconteceu em formato híbrido – e reuniu 1,5 mil pessoas presencialmente (Foto: Edilson Dantas/CNI)
Cláudia de Castro Lima - 17 mar 2022
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Um pequeno grupo de pessoas chamava a atenção de quem foi presencialmente à 9ª edição do Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, que aconteceu nos dias 9 e 10 de março em formato híbrido – enquanto 1,5 mil convidados se reuniram (com todos os protocolos de segurança adotados) no World Trade Center, em São Paulo, outros 22 mil usaram uma plataforma virtual.

Esse grupo entusiasmado era composto por jovens estudantes do ensino médio que participavam da First Tech Challenge (FTC), modalidade em que os participantes projetam, constroem, programam e pilotam um robô de até 19 quilos.

A ideia era mostrar aos empresários e demais visitantes do evento algumas das possibilidades da combinação entre tecnologia, inovação e mecânica.

A conexão entre inovação e tecnologia deu o tom do 9º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, realizado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e o Sebrae.

Mas o evento também trouxe à tona a relação da inovação com outros temas contemporâneos como diversidade e sustentabilidade, defendidos em painéis com líderes empresariais influentes como Tania Cosentino, da Microsoft, e Horácio Lafer Piva, da Klabin.

O evento, que teve a 3M como uma das patrocinadoras, contou com 77 palestrantes e profundos debates sobre tendências no Brasil e no mundo.

 

A First Tech Challenge chamou atenção dos convidados (Foto: Mario Castelo/CNI)

Ganhando cada vez mais espaço na agenda de desenvolvimento de países ricos, a inovação ainda encontra um caminho com obstáculos no Brasil. Os dados mais recentes do Índice Global de Inovação mostram que investimos apenas 1,27% do PIB em Pesquisa e Inovação.

Entre os 132 países avaliados pelo Índice Global de Inovação, ocupamos a 57ª posição. Conforme o presidente da CNI Robson Andrade disse na abertura do evento, essa colocação é incompatível com a grandeza do país, com a sofisticação do setor empresarial brasileiro e com o fato de sermos a 11ª economia do mundo.

“Devemos construir, com urgência, uma visão de longo prazo em que a inovação seja a prioridade e o principal vetor para a inserção internacional do Brasil na era do conhecimento”, afirmou ele.

UM PAÍS ONDE A INOVAÇÃO AINDA PATINA

“O maior desafio da indústria no Brasil é a falta de competitividade frente a todos os custos adicionados, às externalidades de não termos eficiência logística, do excesso de carga tributária sobre a indústria e da falta de mecanismos de incentivo à inovação e à indústria de tecnologia de ponta”, acredita Paulo Gandolfi, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da 3M na América Latina.

“O cenário que encontramos no Brasil hoje é de uma economia extremamente relevante, porém com muito potencial a ser explorado”, concorda Carina Ramos Munhoz, especialista de Inovação e Novos Negócios da 3M, que também participou do evento.

“Nesse contexto, a produção industrial desempenha um papel importante para que a indústria brasileira seja mais competitiva. Como se discutiu durante o Congresso, existem muitos desafios, como o acesso e oferecimento de tecnologias, mão de obra especializada e regulação que estimule o empreendedorismo.”

O presidente da CNI, Robson Andrade, durante o evento (Foto: Edilson Dantas/CNI)

Fernando Ruiz Garcia de Almeida, gerente de Relações Governamentais na 3M, acredita que nosso maior desafio hoje é a integração global.

“Cada vez mais a indústria precisa de uma conexão forte com seus parceiros, fornecedores ou clientes, e esses parceiros estratégicos estão espalhados pelo mundo”, afirma ele.

Internamente, a indústria nacional enfrenta outros desafios. “Qual é nosso lugar no mundo como país, em que podemos fazer diferença tecnológica? Temos que achar essa vocação”, explica Paulo Gandolfi.

O gerente de Relações Governamentais destaca ainda a importância de boas políticas públicas para sermos mais inovadores.

“Precisamos disso no Brasil. Uma boa política pública só nasce a partir de uma discussão profunda com pessoas diversas, vários atores e partes da sociedade olhando para um mesmo tema e colocando suas percepções, anseios e necessidades no debate.”

INOVAÇÃO É UM TEMA MULTIDISCIPLINAR

Diversidade, sustentabilidade e transformação digital permearam praticamente todos os debates que aconteceram no Congresso de Inovação. “O foco deste evento foi mostrar como a inovação está relacionada com estes pilares que precisam evoluir juntos”, acredita Fernando.

No Espaço Talks do Congresso de Inovação, Peter Kronstron, head do Instituto Copenhagen para Estudos Futuros, corroborou a intrínseca ligação entre inovação, sustentabilidade e digitalização.

Falando sobre megatendências de inovação, ele afirmou que as transformações tecnológicas que temos vivido cada vez mais rapidamente – e que foram ainda mais aceleradas por causa da pandemia de Covid-19 – vai mudar o mundo em uma velocidade nunca antes vista.

“Vivemos uma explosão de conhecimento, com a sociedade muito ágil. É necessário inovar cada vez mais, principalmente neste momento da Indústria 4.0 em que a automação passa a ser a realidade”, afirmou.

Por isso, segundo ele, todos os atores precisam voltar o pensamento para a economia circular e solucionar os problemas que já são urgentes.

A especialista da Inovação da 3M acredita que os olhos do mundo estão voltados para o Brasil quando o assunto é sustentabilidade, mas nós não aproveitamos todo o potencial existente.

“Principalmente no âmbito da transformação energética, desenvolvimento de matérias primas renováveis e produção de hidrogênio verde, por exemplo”, diz Carina.

“A chave para que possamos explorar melhor esses temas e exercermos um papel ainda mais relevante no cenário mundial está na valorização da ciência, tecnologia e inovação.”

Participante interage com robô no Congresso de Inovação (Foto: Vitor Andrade/CNI)

Não à toa, a relação entre sustentabilidade e inovação foi o tom da palestra de Paulo Gandolfi no segundo dia do evento. A Inovação Sustentável é o único caminho aceitável. O Cliente precisa estar no centro, mas isso não basta. É preciso olhar todo o impacto, no meio-ambiente, nas comunidades, no mercado. “Foi uma oportunidade muito boa de mostrar para aquele público o que nós pensamos sobre propósito, por que somos o que somos e fazemos o que fazemos”, diz ele.

Carlos Humberto, CEO da Diáspora Black, afirmou no palco principal que acredita que a maior inovação do século 21 é a diversidade.

“A tecnologia avança sem a inovação, mas a inovação não avança sem a diversidade. A diversidade precisa estar junto da inovação, porque, se não, ela está representando comportamentos que ficaram no passado”, defendeu.

“É preciso saber lidar com diferentes grupos e comunidades, desde LGBTQIA+, pessoas com deficiência, idosos e tantos outros.”

Carlos ressalta que toda empresa precisa trabalhar a diversidade e inclusão. “Para criar ambientes de trabalho saudáveis e acessíveis, as empresas precisam buscar profissionais diversos com opiniões e vivências diferentes.”

Isso, segundo ele, resulta em várias vantagens, como aumento de 33% de lucratividade – e, o principal, estar no futuro.

“Não cabem mais empresas que reproduzam comportamentos antigos, porque a população que nasceu no século 21 está olhando em outra direção. Se sua inovação olha para o século passado, você não é uma empresa inovadora.”

A AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL E A INDÚSTRIA 4.0

Sistema de sensoriamento para controle dos dosadores de fertilizantes apresentado no evento (Foto: Victor Andrade/CNI)

O evento também trouxe à tona a importância de incorporar a inovação como estratégia nas empresas – o desenvolvimento tecnológico e a adoção de tecnologias garantem não apenas melhor capacitação dos profissionais, mas também mais qualidade e eficiência nos processos produtivos.

“Nós da 3M acreditamos que o papel principal da inovação é melhorar a vida das pessoas”, diz Carina. “Como isso se aplica na produção industrial? A inovação tecnológica na indústria permite entregar soluções melhores de maneira mais eficiente e acessível”, explica.

“Tais entregas não são possíveis sem que a inovação seja enxergada como investimento, e não como custo – e essa motivação é o que permite o crescimento do papel da ciência e desenvolvimento das organizações e da sociedade.”

Fernando concorda. “Na 3M, inovação é o principal fator de crescimento. Para a produção industrial, a inovação é fundamental para melhorar a competitividade, melhorar a eficiência e a produtividade. E para muita gente que conhece nossas marcas voltadas ao consumidor, a 3M tem sua maior atuação em impulsionar a produtividade das empresas com soluções industriais. Por isso, estamos muito engajados nestes movimentos de transformação da indústria nacional”

“Não só para a 3M, mas para todas as empresas que estavam conosco e que fazem parte da MEI, a Mobilização Empresarial pela Inovação: a inovação na indústria é vital para a sobrevivência deste setor econômico no país e para construirmos um futuro mais promissor para nossa sociedade”, acredita Paulo Gandolfi.

Carina, Fernando e Paulo, no entanto, apontaram que uma das coisas que mais chamou a atenção no Congresso foi algo que pouco tem a ver com inovação – na verdade, está relacionada à tradição.

“Estar presencialmente no evento e reencontrar ou até mesmo conhecer pessoalmente, após dois anos de reuniões virtuais, pessoas que acreditam e investem seu tempo no desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil foi muito especial”, diz Carina.

“Uma coisa tão simples, mas que nesses tempos de pandemia não é comum: o evento concentrou os diversos atores do ecossistema de inovação presencialmente”, diz Fernando.

“Pudemos trocar ideias e discutir sobre os melhores caminhos para seguir avançando no caminho da inovação.”

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