No município de Iracema, em Roraima, uma área de 60 hectares que havia sido desmatada para uso da pecuária recebeu, em 2021, uma agrofloresta com banana, açaí, cacau, mogno, teca e jatobá. A partir de 2023, quando as primeiras bananas forem vendidas, quem colocou dinheiro nesse negócio deve começar a receber retorno do seu investimento.
Esse é o primeiro projeto da Floresta S/A, spin-off da Radix Investimentos Florestais, empresa que recupera áreas degradadas da Amazônia com o plantio de mogno africano e vende cotas destas áreas para investidores (a Radix já foi pauta aqui no Draft).
Thiago Campos, 32, sócio da Radix e diretor-executivo da Floresta S/A explica:
“Mais de 800 pessoas já investiram na Radix e muitas nos perguntavam como seria possível gerar ainda mais impacto ambiental e social. Aí começamos a observar uma necessidade do mercado de ter projetos mais orientados às questões ESG e decidimos fazer um teste com agrofloresta”
Agrofloresta é um sistema de plantio com policultivo (o oposto da monocultura) que coloca no mesmo espaço espécies florestais, que são a árvores mais perenes, e a agricultura, que são espécies produtivas. Entre os benefícios estão o aumento da biodiversidade e a otimização do uso do solo, porque é possível colher diversos produtos em uma mesma área.
Para financiar esse primeiro projeto piloto, em Roraima, a Floresta S/A captou 2,4 milhões de reais com 16 investidores; segundo Thiago, a expectativa é um retorno entre 14% a 17% ao ano.
É um investimento de médio e longo prazo. A expectativa é que, em 2023, a banana comece a dar lucro e, a partir daí, haja retornos anuais. As madeiras de corte – teca, mogno e jatobá – levam mais tempo para gerar resultado: entre oito e dez anos.
O retorno desse tipo de investimento, claro, não se restringe ao bolso. Um plantio biodiverso, com um manejo mais sustentável, sem agrotóxico (como é o caso da Floresta S/A), ajuda a regenerar aquele solo, que recupera sua fertilidade.
A regeneração de áreas desmatadas também contribui para a formação corredores ecológicos. Quando uma área de floresta é desmatada, muitos animais perdem o contato com outra parte daquele ecossistema e isso impacta, por exemplo, na reprodução. A volta da natureza permite que esses animais voltem a circular mais livremente
Na visão de Thiago, porém, a grande disrupção do projeto talvez seja descortinar uma “transição de modelo econômico”, uma nova forma de ter retorno econômico com a floresta.
“Estamos saindo de um modelo de extrair e explorar para outro de regenerar áreas desmatadas, além de evitar o desmatamento de novas áreas ao mostrar que é possível fazer uma economia com a floresta em pé. E, assim, acabamos mudando o sistema econômico da região, oferecendo produtos de maior valor agregado”
Em um primeiro momento, a produção da Floresta S/A deve ser escoada para o mercado consumidor de duas capitais da região, a roraimense Boa Vista e Manaus, no Amazonas.
“É um mercado gigante”, diz Thiago. “A produção agrícola no Norte ainda é muito manual, pouco evoluída e tem muita perda, então, temos a vantagem de estar em um mercado pouco explorado.”
O piloto lançado em 2021 se tornou o primeiro modelo de negócios da Floresta S/A, que deve abrir novas ofertas de investimento nesse mesmo terreno (de propriedade da empresa). Agora, porém, o foco está em desenvolver o segundo modelo de negócios, feito dentro de um programa da AMAZ, aceleradora de impacto da Amazônia, para o qual a empresa foi selecionada em dezembro de 2021.
O objetivo é construir agroflorestas em propriedades de agricultores locais para recuperar áreas, impactar positivamente a vida dessas famílias e ajudar a transformar o pensamento de que a floresta só dá dinheiro se for derrubada (apenas em janeiro de 2022, segundo o Imazon, a Amazônia teve 261 km² desmatados).
“Muitas pessoas ainda desmatam a Amazônia porque, no curto prazo, é o único jeito que têm de ganhar dinheiro e se sustentar. Então, precisamos fazer uma transição de modelo, mostrar para essas pessoas que sustentabilidade não é o oposto de rentabilidade – e que cuidar da floresta não é gasto, e sim investimento”
Com o recurso de 200 mil reais recebido da AMAZ, a Floresta S/A vai começar a implantar o projeto em dez propriedades de Roraima, totalizando 100 hectares.
O impacto em termos de preservação, garante Thiago, será cinco vezes maior, já que um dos requisitos para fazer parte do projeto é que áreas ainda não desmatadas das propriedades permaneçam intactas.
Assim, a expectativa é garantir a preservação de 500 hectares em 2023, quando deve começar o plantio nas áreas selecionadas.
No médio prazo, a meta é escalar esse impacto com a entrada de novos produtores.
“A escalabilidade da agrofloresta vem da conexão com aqueles que já estão lá. Muitos produtores estão abandonando a própria terra e indo trabalhar na cidade porque o solo ficou pobre e ele não consegue mais produzir”
Até 2030, afirma Thiago, a Floresta S/A planeja gerar renda para, pelo menos, 80 produtores, que deverão receber capacitação em gestão de negócios.
A Floresta S/A se prepara para lançar um desafio de soluções agroflorestais para a Amazônia, com o intuito de criar um modelo flexível, que se adapte às condições locais e às necessidades dos investidores (que Thiago prefere chamar de “financiadores”).
“Posso ter, por exemplo, um financiador que está mais interessado em crédito de carbono do que em retorno financeiro”, diz. “Nesse caso, vou adaptar o modelo para gerar mais créditos de carbono e fazer com que ele financie a operação de maneira mais agressiva.”
Em ano eleitoral, Thiago lembra uma outra vantagem do investimento em agrofloresta:
“A banana e o cacau vão crescer independentemente de quem vence as eleições, se tem ou não pandemia. São investimentos que trazem segurança em termos de volatilidade, ou seja, não é uma questão econômica ou uma eleição que vão fazer algo ficar muito bom ou ruim”
No modelo que está sendo desenhado em parceria com a AMAZ, entre 70% e 80% da produção gerada pelas agroflorestas deve ficar para o produtor; o restante será distribuído entre a Floresta S/A e o financiador da operação.
Até aqui, o perfil do investidor, segundo Thiago, foi de pessoas físicas (ligadas a grandes empresas e negócios sociais). Neste novo modelo a ser lançado, a Floresta S/A almeja atrair principalmente pessoas jurídicas, companhias com recursos disponíveis para investir em questões ambientais e sociais – e em busca de projetos confiáveis no mercado.
A ideia é oferecer uma estrutura para que esses produtores consigam manter o negócio sem precisar se endividar com bancos e financiadoras, e, por outro lado, dar segurança aos investidores de que o dinheiro investido vai, de fato, gerar o impacto esperado.
“Vivemos, no Brasil, uma crise de confiança. A pessoa tem a verba, mas não tem certeza de que esse dinheiro vai chegar no produtor…”, diz Thiago. “A Floresta S/A atua como agente estruturador, dando segurança e acompanhamento para que o financiador veja que o recurso dele está gerando mudança e impacto na Amazônia.”
Marina Sierra Camargo levava baldes no porta-malas para coletar e compostar em casa o lixo dos colegas. Hoje, ela e Adriano Sgarbi tocam a Planta Feliz, que produz adubo a partir dos resíduos gerados por famílias e empresas.
Em vez de rios canalizados que transbordam a cada enchente, por que não parques alagáveis? Saiba como José Bueno e Luiz de Campos Jr., do projeto Rios e Ruas, querem despertar a consciência ambiental e uma nova visão de cidade.