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Inteligência Artificial é um negócio de ontem

Luiza Lages / 8 fev 2022Duas mulheres negras, colaboradoras do CESAR, trabalham juntas em frente ao computador.
Com impactos crescentes e irreversíveis da IA nos negócios, o CESAR debate e propõe o desenvolvimento ético de soluções digitais robustas.
Luiza Lages - 8 fev 2022
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Assim como ferramentas de tradução online, que convertem automaticamente textos de uma língua para outra, seria possível desenvolver uma solução que realize a tradução simultânea de libras para o português, e vice-versa? Com essa pergunta e o objetivo de tornar produtos e serviços mais acessíveis para usuários surdos, a Lenovo, multinacional de tecnologia, buscou o apoio do CESAR em 2019. Da parceria, nasceu um projeto que carrega, em seu core, um trabalho com Inteligência Artificial – uma das principais tecnologias usadas pelo CESAR para o desenvolvimento de soluções digitais robustas e escaláveis.

Além de ser base para criar soluções complexas, como no projeto da Lenovo, a Inteligência Artificial se destaca pela melhoria de processos, agilidade das operações, personalização de ofertas e identificação de oportunidades ou riscos. A utilização das capacidades de IA é crescente: o tamanho do mercado global de IA deve chegar a quase 267 bilhões até 2027 e, no Brasil, a IA já é adotada por 40% das empresas. 

“Por dia, você tem contato algumas dezenas de vezes com IA: como resultado de uma busca na internet, sugestão de uma música, filme ou notícias ou resposta  de um assistente virtual. E para uma empresa, a IA pode apoiar todas as etapas do ciclo de negócio e produção, além dos processos internos de gestão. Inteligência Artificial é um negócio de ontem”, diz Geber Ramalho, conselheiro do CESAR e professor extraordinário da CESAR School.

Ele explica, por exemplo, que certos produtos só existem porque envolvem IA. No setor de vendas e marketing, opera-se com sistemas de recomendação, perfis de usuários e retorno automatizado de campanhas. Na produção, a IA aparece nas soluções de manutenção preventiva a ferramentas de análise do perfil de demanda. E a IA ainda aparece na logística, no relacionamento com o cliente, na gestão financeira e na gestão de pessoas.

 

Regulação e ética da inteligência artificial

“A IA é um caminho sem volta, faz parte de uma mudança de paradigmas que já vem acontecendo. Mas quando você vai para o outro lado da questão, enxerga uma sociedade que não está preparada. A mudança no mundo jurídico vem a reboque das transformações na sociedade, e ainda não há uma regulamentação para a IA”, diz Claudia Cunha, gerente jurídica do CESAR.

Se a evolução da tecnologia caminha a passos largos, a construção da legislação evolui lentamente. Isso cria um distanciamento entre mercado e regulação e, nesse vácuo, grandes corporações acabam legislando a partir de modelos próprios – a conduta da empresa passa a ser vista como conduta social. “Assim, cada corporação precisa se posicionar sobre como quer estar nesse mundo. E o grande desafio é aliar duas visões: como ter um produto de IA e fazer isso de forma ética”, completa Claudia.

Geber Ramalho, conselheiro do CESAR e professor extraordinário da CESAR School.

Para Geber Ramalho, conselheiro do CESAR e professor extraordinário da CESAR School, a Inteligência Artificial (IA) já faz (ou deveria fazer) parte do ciclo de negócios e produção nas empresas.

O relatório State of Responsible AI, divulgado pela FICO, mostra que 78% dos entrevistados têm dificuldades em conseguir suporte da gestão para projetar o uso responsável e ético de IA nas empresas. Além disso, a maioria não garante saber aplicar o uso ético para além de regulamentações básicas. O mesmo estudo indica que 70% dos respondentes não souberam dizer como as decisões de IA são feitas, e não há consenso sobre a responsabilidade das aplicações.

Geber Ramalho explica que há uma série de riscos associados à IA e a dados – duas frentes que andam juntas.

“Sobre a IA que desenvolvemos ou usamos, devemos nos perguntar: ela é ética, é tecnicamente confiável e é explicável? E os dados que a IA usa estão seguros, respeitam a privacidade e a ética e são transparentes? São perguntas que precisamos nos acostumar a fazer nos próximos anos”, diz Geber.

Assim, deve-se observar: quão confiável é uma decisão e agir para melhorá-la;  se a fase de treinamento de máquina leva a algoritmos com preconceitos ou que perpetuem injustiças; quanta autonomia se quer dar à máquina e ao ser humano nas decisões, para atribuir responsabilidades; a necessidade de explicar as decisões; e a privacidade, a segurança e a transparência relacionadas à coleta, uso e repasse de dados.

 

CESAR apresenta uma jornada possível de transformação digital para empresas brasileiras.

 

Privacidade, transparência e diversidade

Claudia Cunha, gerente jurídica do CESAR.

Para Claudia Cunha, gerente jurídica do CESAR, um grande desafio das empresas é como ter um produto de IA e desenvolvê-lo de forma ética.

No CESAR, a preocupação com esse tipo de questionamento tem levado a determinados aprendizados e modos de operar. Em relação ao uso de dados, um caminho adotado pelo centro é dissociar os dados das pessoas tão logo seja feito o aprendizado de máquina.

“Por exemplo, para desenvolver um software de reconhecimento facial, você usa imagens de faces, que seriam dados pessoais, para que a máquina aprenda. Mas depois desse momento, a ideia é trabalhar somente com a IA que fica: você não tem como recuperar os dados originais”, explica Claudia.

Na área de marketing, uma forte preocupação é não extrapolar o uso de dados obtidos com clientes, fugindo da abordagem e expectativa iniciais – apresentadas em um contexto específico na hora da coleta.

“Eu tenho que ter cuidado se o uso que eu faço em relação à IA foi abordado com a pessoa. A coleta desses dados faz parte de um contrato, mesmo que seja informal. E se você não tiver esse cuidado, o uso de IA vai extrapolar esse uso de forma muito rápida: você tem que ter seus critérios e colocar limites. E quando você consegue passar esse grau de transparência, você tem um diferencial”, diz Claudia.

Em relação a projetos em geral, com soluções automatizadas, o CESAR procura montar cenários de forma a retratar ao máximo a realidade, ou seja, buscar e usar imagens e informações com cada vez mais diversidade. A parceria da Lenovo com o CESAR tem o objetivo de solucionar uma dor de inclusão, palavra-chave que acompanha todo o processo de desenvolvimento do projeto, desde o início – e é prova da importância de times diversos para produzir tecnologia e inovação.

 

Tecnologia para inclusão

Hildebrando Lima, Diretor de P&D da Lenovo no Brasil.

Hildebrando Lima, Diretor de P&D da Lenovo no Brasil, conta sobre o projeto da Lenovo junto ao CESAR: um trabalho de IA voltado para usuários surdos.

“Temos uma desenvolvedora fluente em libras, e ela nos explicou sobre as dificuldades das pessoas surdas em usar dispositivos diversos, como caixa eletrônico a aplicativos de comunicação. E eu, que não tinha nenhum contato com isso, fiquei surpreso. Para essas pessoas, usar a tecnologia é um desafio. Veio então a pergunta: como fazer com que os nossos produtos incorporem isso de forma ativa e não reativa?”, lembra Hildebrando Lima, Diretor de P&D da Lenovo no Brasil.

A Lenovo buscou então o CESAR, com o objetivo de desenvolver um chat em tempo real português-libras, que pudesse ser usado em canais digitais de comunicação da empresa.

 

Leia mais sobre o projeto da Lenovo com o CESAR.

 

“É até intrigante, porque como a grande maioria dos projetos de tecnologia, começamos olhando para a solução. Mas logo entendemos que essa visão do chat em tempo real era perfeita, mas quase uma utopia para o momento, e começamos a pensar em outras maneiras de olhar para o problema”, conta Willian Grillo, designer de interação do CESAR.

Willian Grillo, designer de interação do CESAR.

No projeto da Lenovo, Willian Grillo, designer de interação do CESAR, está à frente das pesquisas com usuários.

Depois de quase três anos de pesquisas com usuários, os times do CESAR chegaram a algumas alternativas de soluções que servirão de base para a construção de MVPs (mínimo produto viável). Apesar de serem ferramentas mais simples, a ideia é que já entreguem valor agora para pessoas surdas – e que ajudem a gerar aprendizado para um dia construir o almejado chat.

“Nós queremos chegar a uma solução e aprimorar a aplicação, de forma que o usuário pegue esse produto pronto. Fizemos testes exaustivos, chamamos especialistas e engenheiros que possuem deficiência auditiva para trabalhar no projeto. Estamos tomando todo o cuidado para que o usuário surdo sinta que isso foi feito para ele”, conta Hildebrando.

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