Os cientistas alertam: limitar o aumento da temperatura global em 1,5 °C é o melhor (e talvez único) caminho para evitar uma devastação planetária causada por enchentes, queimadas e ondas de calor insuportáveis.
A péssima notícia é que estamos longe de cumprir essa meta: a emissão dos gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono, continua alta, e a Climate Action Tracker prevê que o aumento pode chegar a 2,4 °C até o fim deste século.
Sair dessa enrascada é o grande desafio da humanidade — e passa obrigatoriamente pela proteção e regeneração das florestas, capazes de capturar carbono da atmosfera. Para Luis Adaime, sócio-fundador da Moss, esse cenário catastrófico é um sinal de que será preciso dobrar o mercado global de carbono.
“Se começarmos a atuar agora, com o senso de urgência necessário, temos que baixar as emissões pela metade. Só que as empresas não têm mais tempo de reduzir por meio da eficiência industrial. Então, tem que colocar um custo na poluição. E isso é feito através do crédito de carbono”
Um crédito equivale a 1 tonelada de carbono que foi retirado da atmosfera ou deixou de ser emitido. Segundo Luis, as estatísticas mundiais mostram que o ser humano emite 55 bilhões de toneladas por ano e que apenas 20% disso é mitigado. Ou seja, há muito a ser feito.
Luis veio do mercado financeiro; por cinco anos, foi vice-presidente do Credit Suisse. A criação da Moss, em 2020, foi uma resposta a uma urgência pessoal: encontrar um trabalho que trouxesse mais propósito à sua vida.
“Eu queria salvar o mundo, mas como salvar o mundo é demais, resolvi salvar a Amazônia”, diz o empreendedor.
Era preciso achar uma forma de fazer a floresta valer mais em pé do que no chão, cortada, como matéria-prima para a indústria madeireira. Em suas pesquisas, Luis descobriu que já tinha gente investindo em terra como estoque de carbono — e que havia uma perspectiva de faltar carbono no mercado.
Ou seja, havia ali uma oportunidade para construir um negócio que ajudasse a preservar a natureza. O empreendedor comprou, então, 300 mil reais de crédito de carbono e, com o lucro, foi desenvolvendo a Moss, uma loja digital que comercializa os créditos gerados por seis projetos sustentáveis localizados na Amazônia.
No momento, quatro projetos estão ativos: Santa Maria (77 mil hectares no norte do Mato Grosso, junto à divisa com o estado do Amazonas), Madre de Dios (99 mil hectares no Peru), Agro Cortex (186 mil hectares entre o Acre e o Amazonas) e Ituxi (150 mil hectares no Amazonas)
Os outros dois projetos voltam ao mercado em 2022. “Esses projetos funcionam com safras. Todos os anos são auditados e geram novos créditos. A safra que estamos vendendo agora é 2020. A safra 2021 começa a ser vendida em maio/junho.”
Uma das sacadas do empreendedor foi atrelar o blockchain aos créditos, levando, assim, tecnologia para o mercado de carbono.
Com isso, os créditos tornaram-se ativos. Ou seja, uma pessoa ou empresa não precisa comprar e fazer a compensação imediata (que significa dar baixa naquele crédito). Em vez disso, ela pode guardar para revender quando o preço estiver melhor.
Como o crédito está registrado em blockchain, não existe o risco de ser vendido mais de uma vez — ou do dinheiro não ser destinado ao projeto correspondente.
“Um dos fatores que minavam a credibilidade do crédito de carbono era que projetos vendiam créditos que não existiam ou vendiam o mesmo crédito várias vezes. Ao pôr isso em blockchain, agregamos credibilidade a todo o processo”
Hoje, os créditos da Moss (MCO2 Token) podem ser comprados diretamente na plataforma da empresa e também estão listados em bolsas de criptomoedas como Mercado Bitcoin, Gemini, Global etc.
Buscando a inovação baseada em tecnologia para o mercado da sustentabilidade, a Moss concretizou, em junho, a compra da OnePercent, startup gaúcha que desenvolve soluções em blockchain.
(Um parêntese para você que perdeu o Draft Talks: Fausto Vanin, sócio da OnePercent, e Rodrigo Batista, fundador do Mercado Bitcoin, foram os convidados do nosso evento em comemoração aos 7 anos do Draft. Confira o bate-papo sobre criptomoedas e NFTs na íntegra!)
EMPRESAS TRANSACIONAM COM A MOSS PARA COMPENSAR SUAS EMISSÕES OU REPASSAR OS CRÉDITOS AO CONSUMIDOR
A Moss começou a operar oficialmente na segunda quinzena de março de 2020. Exatamente quando teve início, no estado de São Paulo, a quarentena para deter a circulação da Covid-19.
Inicialmente, a empresa mirava pessoas físicas, em busca de uma opção atrativa de investimento. Logo, porém, a Moss mudou seu foco para negociações com grandes companhias que vem se adequando à agenda ESG.
“As empresas estão buscando compensação porque as pesquisas indicam que as novas gerações não querem consumir algo que promova a destruição do planeta”
Hoje, algumas delas adquirem os créditos para compensar suas emissões. É o caso da Hering e também do iFood — a plataforma de delivery já compensou as emissões de todas as entregas a serem feitas em 2021.
Outra opção é repassar os créditos ao cliente final. É o que faz a Gol. A companhia aérea oferece aos seus passageiros a possibilidade de neutralizar a pegada de carbono gerada em um voo por meio da compra de créditos adquiridos pela Gol junto à Moss.
Para se ter uma ideia do crescimento desse mercado, em 2020 a Moss transacionou 6 milhões de dólares em crédito de carbono. Neste ano, até outubro, foram 16 milhões. A estimativa é fechar 2021 com 20 milhões.
O aumento da demanda, segundo Luís, já é quatro vezes maior do que a oferta de créditos. Isso vem gerando escassez no mercado e uma disparada do preço, que subiu de 2,5 dólares em 2020 para 12 dólares em 2021.
“O preço está voando e acho que vai ter uma crise absurda de escassez. Em 2019, existia uma demanda por 100 milhões de créditos de carbono e uma oferta também de 100 milhões. No ano passado, a demanda já era de 500 milhões — e, neste ano, está estimada em 1 bilhão.”
Só a Amazon, a Microsoft e a Jetblue, afirma o empreendedor, têm uma demanda de 70 milhões de créditos. “Em contrapartida, a oferta aumentou de 100 para 250 milhões.” Ou seja, num ritmo ainda insuficiente para dar conta da demanda explosiva.
De olho nessa lacuna, a Moss começou a investir no desenvolvimento de projetos ambientais.
A startup está fazendo parcerias com proprietários de terras para transformá-las em projetos auditados e geradores de créditos de carbono que poderão ser vendidos no mercado.
“Estamos criando um negócio no qual a terra que é vista como um custo para o proprietário vai virar uma fonte de renda. Ele vai subir os documentos para arquivar junto ao governo e aos cartórios e a gente roda um algoritmo que determina quanto aquela terra pode gerar em crédito de carbono. É uma solução global”
Segundo Luis, dos 250 milhões de créditos que existem, apenas 10 milhões são certificados. Auditar e transformar essas áreas, canalizando seu potencial para a geração de créditos de carbono, é um dos desafios desse mercado.
“O Brasil tem metade do carbono do mundo, 40% das florestas tropicais do planeta estão aqui. Ou seja, há muito potencial.”
Em paralelo a esses projetos ambientais para gerar créditos, a Moss criou uma solução em tokens não fungíveis, as NFTs da Amazônia, pelo qual uma área preservada é fracionada e atrelada a um NFT vendido no mercado.
A aquisição da OnePercent pela Moss vem justamente para alavancar a tecnologia de projetos como esse. Quem comprar o NFT receberá um card digital que simboliza a área que está sendo protegida. Luis explica como vai funcionar:
“Entramos em sociedade com os donos da terra para tokenizar e distribuir os NFTs. Neste negócio, temos nossa margem de lucro, o proprietário tem a margem dele e a outra parte a gente põe em um fundo de conservação de 30 anos.”
A Moss ainda está finalizando o estabelecimento dos projetos que farão parte deste negócio, mas são terras com foco em conservação e proteção ambiental que serão analisadas pela startup.
Ao contrário dos créditos de carbono, os NFTs não são ativos que podem ser revendidos no mercado.
“Esse é um projeto com retorno 100% socioambiental. Os compradores dos tokens se tornam uma espécie de ‘protetor’ da floresta, compartilhando a responsabilidade de proteção com outros proprietários. Assim, o ônus financeiro de defender a Amazônia é socializado”
Em média, segundo Luís, cada NFT vai custar cerca de mil dólares. “Já temos 1 milhão de reais em pré-ordens”, conta. Se isso tudo parece muito futurista, o empreendedor rebate: é apenas o começo do jogo.
“Nossos clientes já enviaram mais de 100 milhões de reais para a Amazônia. É cinco vezes o orçamento federal para a região. Acho que a gente está no minuto 1 de um jogo bastante longo. Dá pra botar mais dinheiro aí.”
Marina Sierra Camargo levava baldes no porta-malas para coletar e compostar em casa o lixo dos colegas. Hoje, ela e Adriano Sgarbi tocam a Planta Feliz, que produz adubo a partir dos resíduos gerados por famílias e empresas.
Em vez de rios canalizados que transbordam a cada enchente, por que não parques alagáveis? Saiba como José Bueno e Luiz de Campos Jr., do projeto Rios e Ruas, querem despertar a consciência ambiental e uma nova visão de cidade.