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“O CESAR quer recriar a régua da inovação.”

Luiza Lages / 14 maio 2021Colaboradores CESAR
O CESAR nasceu com o propósito de transformar a realidade de Recife e, ao longo dos últimos 25 anos, se consolidou como referência em inovação no Brasil.
Luiza Lages - 14 maio 2021
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No início dos anos 90, um movimento de contracultura surgido na cidade de Recife (PE) começou a questionar o abandono econômico-social e a desigualdade. O manguebeat misturava ritmos, como as batidas do maracatu com o rock, e gerou verdadeiras ondas de impacto, que abalaram a sociedade pernambucana e repercutiram também fora do estado. Foi nesse contexto que, no coração da capital pernambucana, nasceu o CESAR.

Desde então, e hoje dentro do Porto Digital e de um centro histórico renovado e cheio de vida, o CESAR vem construindo uma trajetória de transformação pela inovação, ancorada em educação, negócios, tecnologia e design. Mas essa história, que completa 25 anos neste dia 14 de maio de 2021, não teve início ali, e sim nos corredores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Em 1993, um grupo de professores do Centro de Informática começou a debater a relação entre universidade e sociedade.

“Era um debate que combinava política, filosofia e a própria noção de Academia. A gente se perguntava o que era a universidade e o que estávamos fazendo ali: para quem, por quê, com quem”, explica o cientista e empreendedor paraibano Silvio Meira, professor emérito da UFPE e um dos fundadores do CESAR.

Era uma discussão muito ligada à evasão de talentos que se observava em Recife. Fred Arruda, atual CEO do CESAR, lembra de um episódio marcante:

“Praticamente uma turma inteira de formandos em Computação da UFPE foi contratada para trabalhar em uma empresa de São Paulo. Começamos a ficar inquietos com isso e a discutir um instrumento que pudesse reter a mão-de-obra qualificada em Recife”.

A solução foi criar um centro de inovação privado, sem fins lucrativos e autossustentável.

“Era fundamental entender a dificuldade de empreender. A Academia normalmente é muito isolada e autossuficiente, e um centro de inovação que faz a ponte entre Academia e mercado tinha que ser extremamente aberto e predisposto a trabalhar em rede. Esse era o espírito”, diz Silvio.

Foi com esta missão que, no dia 14 de maio de 1996, nasceu o CESAR.

Colaboradores trabalham no CESAR.

CESAR celebra 25 anos de uma história construída por pessoas motivadas a transformar o cenário da inovação em Pernambuco e no Brasil.

 

Educação: formação para inovação

Naquela época, Ana Carolina Salgado era professora da UFPE e assinou o ato de fundação do CESAR, junto dos três fundadores: Silvio, Fábio Silva e Ismar Kaufman. Desde 2017, ela é diretora acadêmica do Centro e participou da criação da CESAR School.

“A educação fazia parte do CESAR desde a fundação. Mas em 2006 isso se consolidou de outra forma, quando o Silvio sugeriu a criação de um mestrado profissional”, conta.

Ana Carolina explica que a atuação do CESAR em processos de formação tem duas vertentes: projetos educacionais em escolas de ensino fundamental e médio e ensino superior. O primeiro curso formal do CESAR foi o mestrado profissional em Engenharia de Software. Hoje, a escola conta com cursos de graduação, mestrado e doutorado profissional. Em 2020, chegou à marca dos 250 mestres formados.

“Em dezembro de 2021 vamos formar as primeiras turmas de Computação e Design. E são alunos que trabalham desenvolvendo projetos desde o começo do curso, que têm contato com os clientes, com as empresas do Porto Digital”, diz Ana.

Alunos na CESAR School.

Alunos num dos ambientes da CESAR School.

A interseção entre educação, negócios e tecnologia sempre foi forte no CESAR.

“Lá na década de 90, os nossos alunos na UFPE estavam com uma formação diferenciada e as empresas locais não eram adequadas; eles estavam migrando para outras regiões. Então o CESAR foi criado na perspectiva de mudar o trabalho local, de operar como uma incubadora”, conta.

Neste vídeo, Silvio Meira, o designer H.D. Mabuse e a diretora-executiva Roberta Fernandes contam a história da fundação do CESAR e falam da missão do centro. Vale assistir!

 

Âncora da inovação

Logo no início, o Centro incubou pelo menos quatro empresas. Algumas das diversas startups que o CESAR ajudou a criar ao longo desses 25 anos foram a Tempest e a Neurotech, em 2002, a E-capture e a Pitang, em 2004, e a Fusion, em 2014. O CESAR certamente foi alicerce para o cenário que precisa ser pintado quando se pensa em um dos maiores parques tecnológicos do país – e também de uma economia e de uma cultura pulsante, que hoje irradia para além de Pernambuco.

Cláudio Marinho, CEO da Porto Marinho e membro do conselho do CESAR, esteve diretamente envolvido na criação do Porto Digital, em 2000. Ele conta que o Centro foi a primeira instituição que migrou para o complexo.

“A gente adquiriu prédios antigos e destinou ao CESAR. O da Praça Tiradentes foi o primeiro deles e, a partir daí, aquela região ganhou vida nova”, lembra.

Para Cláudio, a participação ativa e intensa dos professores que fundaram o CESAR foi fundamental para a criação do Porto Digital:

“São milhares de horas de dedicação de empreendedores cívicos que se comprometeram com o desenvolvimento de uma região. À medida que o Centro evoluía, ele criava empresas e crescia dentro do sistema do Porto Digital. E na visibilidade que começou a ter, levava consigo o Porto, e vice-versa. O CESAR é uma das âncoras do Porto Digital, sempre foi”.

 

Tecnologia e negócios

Desde o início, para incubar as empresas, o CESAR precisava de recursos, que vieram do desenvolvimento de projetos de tecnologia para empresas locais e nacionais.

“Então muitos professores eram consultores dos projetos. Essa também era uma motivação: desenvolver pesquisa relevante para a sociedade”, diz Ana Carolina.

Logo vieram parcerias de peso, como IBM e Motorola, que faziam parte do conselho do Centro, e outras incentivadas pela Lei de Informática, como o Itautec. O Centro era referência nas linguagens de programação que despontavam naquele momento. Fred conta que os dois maiores projetos em Java do Brasil foram desenvolvidos pelo CESAR, para o DataSUS e o Ministério de Ciência e Tecnologia.

“Qualquer empresa vive de negócios. E a gente desenvolveu uma estrutura para ir ao mercado com o seguinte posicionamento: pessoas impulsionando a inovação e inovação impulsionando negócios”, diz Fred.

Para o CEO do CESAR, isso significa que é necessário estar atento às mudanças do mercado, mas também ser provocador sobre essas mudanças.

Colaboradora em oficina no Laboratório de Prototipagem para Sistemas Embarcados do MAGIC Lab do CESAR.

Oficinas no MAGIC Lab se relacionam ao objetivo do CESAR de investir em formação e experimentação com tecnologia.

 

Design: olhar sobre as pessoas

“Como centro de inovação, devemos nos obrigar a introduzir novas formas de pensar nossa agenda do futuro. E aí a gente começa a pensar também em criação, que tem tudo a ver com design”, explica Fred.

Para ele, não tem como fazer inovação sem olhar para o usuário: de forma colaborativa e em termos de experiência.

“A inovação não é mais orientada a tarefas, mas ao cliente. E hoje o CESAR é uma organização design driven”, completa.

O design sempre existiu dentro do CESAR e se tornou um de seus alicerces já nos primeiros anos, com a entrada de H.D. Mabuse para a equipe. Hoje, dos quase mil colaboradores do Centro espalhados pelo Brasil e pelo mundo, cem são designers. Eles atuam de forma articulada e distribuída, em todas as áreas do CESAR.

“Vivemos um momento em que existe essa preocupação com negócios, com um viés de inovação tecnológica, mas também com algo que surge a partir dos anos 2005, que é uma ênfase no entendimento das pessoas por meio do Design”, diz Mabuse.

Para o consultor do Centro, esse olhar, cada vez mais, se consolida no que ele chama de questões do cuidado.

“Não só o cuidado com as pessoas dentro de casa, dentro do CESAR, mas o cuidado com o que a gente produz para fora, o que a gente faz com as outras pessoas”, reflete.

Para ele, esse viés é cada vez mais determinante na atuação do CESAR e de outras instituições.

 

Centro transformador

Colaboradores na Praça Tiradentes, em frente ao prédio do CESAR.

Colaboradores na Praça Tiradentes, em frente ao prédio do CESAR.

Cláudio Marinho lembra que o CESAR é uma instituição com nome de gente, o que já evidencia a valorização das pessoas.

“No início, a preocupação era com a transferência de conhecimento entre a sociedade e a academia. Sempre quisemos tratar de problemas relevantes da sociedade e hoje queremos formar pessoas transformadoras da realidade”, diz.

Para Fred Arruda, além dos valores e princípios do CESAR, o compromisso em subir a régua de inovação e produtividade no Brasil é uma constante na trajetória do Centro, e mantém acesa a chama que vem lá dos primeiros debates sobre a criação da instituição. O CESAR já vem construindo uma história de projeção nacional e internacional: está presente em Manaus, Curitiba, Sorocaba, São Paulo e Rio de Janeiro e tem clientes de outros países também.

“A gente surgiu com o compromisso de fazer o Brasil ser mais relevante no uso de tecnologia. Queríamos estar no mindset global como país que promove inovação e empreendedorismo nos seus ecossistemas. Hoje, a gente atua intensamente em alguns deles. E esse compromisso continua muito vivo”, conclui Fred.

Veja os principais marcos da história do CESAR nesses 25 anos:
Linha do tempo do CESAR
*Todas as fotos deste post foram produzidas antes da pandemia de Covid-19.

 

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