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Em uma realidade transformada, Expert XP 2020 atinge 5 milhões de espectadores e mostra que “ser capim é melhor que ser bambu” 

Paulo Vieira / 21 jul 2020
O ex-ministro inglês Tony Blair em conversa com o estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira, na primeira noite da Expert 2020.
Paulo Vieira - 21 jul 2020
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Quem é seu Daniel? Foi com essa pergunta aparentemente enigmática, mas extremamente poderosa, que o inventor norte-americano Mick Ebeling fechou sua apresentação, no sábado passado, a penúltima da longa maratona de atrações da Expert XP 2020, o maior evento de investimentos do mundo.

Pela primeira vez totalmente digital e aberta, e com alcance estimado em 5 milhões de espectadores, a Expert XP não só aumentou tremendamente seu alcance, uma vez que a edição anterior, presencial, foi acompanhada por 30 mil pessoas; o conteúdo transcendeu ainda mais o mundo das finanças e acolheu como nunca o propósito. 

O Daniel da pergunta de Ebeling é um menino de 12 anos do Sudão do Sul que, pastoreando bois e cabras de sua família, perdeu os dois braços após uma bomba explodir na região conflituosa em que vive. Ao tentar se proteger da explosão atrás de uma árvore, deixou seus braços expostos.

Mais do que conhecer essa história, o que motivou Ebeling a passar meses de sua vida buscando obsessivamente uma maneira de ajudar o menino foi ser informado de que Daniel, agora sem braços, passou a se considerar “um fardo” para sua família. As próteses que Ebeling, ele pai também de um menino de 12 anos, projetou e construiu com impressora 3D in loco, na África, após meses de tentativas infrutíferas nos Estados Unidos, custaram US$ 100, dezenas de vezes menos do que as convencionais.  

Quem é seu Daniel?, Ebeling repetiu, sugerindo que as pessoas encontrassem alguém, uma pessoa apenas, a quem pudessem ajudar. Logo depois de Ebeling, a nobel da Paz Malala Yousafzai contou em conversa com a diretora de ESG da XP, Marta Pinheiro, um pouco de sua história. Mesmo quem já tenha ouvido a paquistanesa antes dificilmente ficaria indiferente a seu relato e a sua conclamação para que todos tenham acesso à educação.

“Deixemos de gastar com coisas desnecessárias, como armas”, disse. “Somos humanos e somos civilizados, podemos viver em um mundo com valores comuns.”

Perguntada se tinha ídolos, e quem seriam eles, Malala citou Nelson Mandela, Martin Luther King e a ex-primeira ministra paquistanesa, Benazir Bhutto, primeira mulher a chefiar um governo islâmico, e que foi assassinada.

Também presente na videoconferência, seu pai, Ziauddin, contou como quis mudar a história das mulheres na região rural em que nasceu e cresceu no Paquistão.

Suas cinco irmãs, como tantas outras mulheres, não foram criadas para estudar, mas sim para casar e servir seus futuros maridos. Foi assim que Ziauddin acabou por fundar uma escola para meninas, tornando-se um antípoda, uma verdadeira Nemêsis do Talibã. “Não me pergunte o que eu fiz, pergunte-me o que eu não faço. Não cortem as asas das suas filhas, deixem elas voarem na direção que quiserem.” 

A pauta 100% inspiracional do sábado podia confundir antigos frequentadores da Expert, que talvez imaginassem encontrar ali apenas lições para melhorar os ganhos de seus investimentos. Não que a Expert não tenha tratado disso ao longo da semana. O economista e palestrante Ricardo Amorim, por exemplo, fez uma apresentação extremamente didática e nela apontou que um novo ciclo de valorização das commodities brasileiras vem por aí, ao mesmo tempo em que ações de megacorporações de tecnologia mundiais devem entrar em declínio.

Mas propósito ou, vá lá, “fazer o bem”, vem encontrando como nunca o capital. No sábado, Guilherme Benchimol, CEO e fundador da XP, disse:

“Colaboradores engajados fazem mágica, engajam clientes”. E recomendou: “Invistam para deixar o mundo melhor, exponham isso, podem ter certeza que vão ter muito mais retorno no final. Essa crise foi quando [a XP] mais cresceu na nossa história.” 

Por alguns momentos, no começo do ano, a maior Expert da história da XP esteve ameaçada de não acontecer. Responsável pelo marketing e conteúdo digital da empresa, Karel Luketic, um dos organizadores do evento, revelou que chegou mesmo a achar que [a Expert] “não ia rolar”, mas aí viu “ser mais importante do que nunca”, por conta da pandemia, “transmitir esse conteúdo”.

Durante o primeiro semestre, a XP intensificou a prática das lives, produzindo dezenas delas, e tendo como âncoras muitos profissionais diferentes da empresa, o que serviu como bom simulado para os cinco dias intensos do evento. 

Se no sábado o propósito ocupou a pauta da Expert, na sexta, um dia de programação muito intensa, ele se uniu harmoniosamente com o dinheiro, especialmente na esperada apresentação do ex-jogador de basquete americano Earvin “Magic” Johnson.

Magic inspirou:

“Sempre vi meus competidores como pessoas que poderiam me fazer melhorar. Sempre que perdia, voltava para o treino e me esforçava até vencer de novo”. E ensinou a investir: “Para comprar uma ação, você precisa ter certeza de que o time de gestão é adequado. As lideranças são parte essencial do sucesso ou do fracasso de uma companhia”.

Para dar uma ideia de suas credenciais como investidor, Johnson foi um dos primeiros a colocar dinheiro na Starbucks e hoje controla uma empresa que vale cerca de US$ 1 bilhão.

Na sua última participação na Expert, pouco antes da entrada de Malala, Benchimol ainda contrariou um lugar comum, aquele que vê o Brasil como uma antessala dos infernos para os investidores.

“Aqui é o local dos sonhos. Vai competir na Europa, na Ásia, ali a concorrência é ferrenha, e aqui falta tudo. A burocracia é complicada, mas falta tudo. A gente aprendeu a culpar o governo, mas agora com juros baixos há um estímulo natural ao empreendedorismo. Comecei a empresa com R$ 10 mil no bolso. Adoraria que outros empresários acreditassem no sonho e apostassem no Brasil.”

Instado a dizer como foi a primeira Expert, em 2011, no hotel Windsor, no Rio, o CEO relembrou: “Foram 300 pessoas, mas 150 eram nossos funcionários. Dois oito estandes, cinco eram nossos.”

Guilherme Benchimol, CEO e cofundador da XP, na Expert XP 2020

Em vídeo produzido no encerramento do evento, os criadores, falando em nome da XP, dizem que “2020 transformou a realidade em todo mundo. E nós também precisamos nos reinventar”. O conceito de “realidade redefinida” que permeou todo o evento também foi invocado por Benchimol, que lembrou que a XP teve “o segundo caso de Covid-19 do Brasil” e com isso teve de “colocar pessoas em casa”. 

Ao fazê-lo, notou que “dá para ter mais qualidade de vida e mais performance”.

“Um aprendizado que ficou de maneira bastante sólida é que se você cuida melhor das equipes, elas vão cuidar melhor do negócio.”

E completou: “Ficou um legado de se comprometer com a sociedade. A gente mais do que nunca aprendeu a cuidar das pessoas que estão ao nosso redor. O Brasil é muito afetuoso mas pouco solidário, essa crise fez com que todo mundo se mexesse.” 

O CEO da XP disse ainda que o “maior aprendizado” vem de uma metáfora que ele “carrega sempre”: “A crise mais do que nunca mostrou que é preciso ser capim, e nunca bambu. O vento pode vir do norte, do sul, mas o capim nunca quebra. Ele não é senhor da verdade, não culpa os outros. Não tem a postura rígida do bambu. A crise obrigou a todos a ser muito rápidos, ágeis, a cuidar dos funcionários. Ter colocado de pé essa Expert foi uma coisa extraordinária.”

Dá para ver ou rever as palestras e conversas do hub principal da Expert XP na íntegra. O conteúdo está disponível por tempo limitado. Clique em expertxp.com.br

 

 

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