O palco para um encontro que debate a percepção das pessoas em relação à ciência não poderia ser mais representativo: um dos maiores institutos de pesquisa do Brasil. O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), criado há 123 anos, abriu suas portas para receber o evento promovido pela 3M que compartilhou as principais descobertas de sua pesquisa global, o Índice do Estado da Ciência (State of Science Index, SOSI).
Refletindo a importância da presença dos setores público e privado no investimento e disseminação da ciência, o encontro “Diálogos de Impacto” reuniu cientistas, acadêmicos, líderes empresariais, representantes de instituições públicas e a 3M, adotando um formato dinâmico, com conteúdos e apresentadores diversos.
A Secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Zeina Latif, abriu o encontro, reiterando a importância de estreitar laços com o setor privado e destacando que o país investe pouco em ciência e inovação frente às necessidades e o potencial que tem.
Zeina ainda enfatizou as boas notícias da pesquisa SOSI*, que mostrou que a sociedade está confiando mais na Ciência e procurando informação de mais qualidade.
“Porém, a sociedade não sabe exatamente o que é a produção científica. Temos um trabalho que é o de ensinar as pessoas”, ressaltou.
Zeina ainda pontuou dados preocupantes, como a questão da diversidade no ensino STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). O estudo mostra que 90% das pessoas concordam que é necessário aumentar a diversidade e a inclusão nos campos STEM, alertando para a falta de acesso igualitário.
A convite da 3M, Atila Iamarino, biólogo, doutor em microbiologia e pesquisador, bateu bom papo com os convidados e frisou a importância da comunidade científica se colocar em evidência e participar dos inúmeros debates públicos.
Atila, conhecido por divulgar a ciência em seu canal no YouTube, o Nerdologia, e em várias plataformas como o novo programa Hiperconectado, da TV Cultura, contou sobre sua trajetória como cientista e seu longo trabalho de divulgação científica até se tornar uma voz influente na valorização e defesa da ciência.
O biólogo ressaltou que, segundo a pesquisa, 90% dos brasileiros confiam nos cientistas, apontando que a comunidade tem lugar de fala. Um grande problema é que a população não sabe identificar esses profissionais.
“90% dos entrevistados não souberam nomear cientistas”, exemplificou.
E olha que temos grandes cientistas brasileiros em diversas áreas. Ele estimulou que os próprios profissionais estejam mais abertos à exposição e encontrem seus espaços para se comunicar, lembrando que a comunicação cada vez mais se passa nas plataformas digitais, o que requer que as pessoas desenvolvam estes talentos de comunicação no mundo conectado para qualquer profissão.
É claro que um evento de Ciência pensaria em trazer visões de mundo de líderes atuantes em diversos campos científicos. Roseli Lopes, professora associada e vice-diretora do Instituto de Estudos Avançados da USP e coordenadora geral da FEBRACE, destacou que apesar das pessoas dizerem acreditar mais na ciência, o conhecimento delas sobre o tema ainda é muito superficial.
“As escolas no Brasil trabalham ciência de forma rasa, preparando o aluno para ser um consumidor pouco crítico. Precisamos incentivar as crianças, ensinar métodos das investigações científicas desde cedo”, pontuou.
Em seguida, Paulo Gandolfi, Diretor de Operações de Pesquisa e Desenvolvimento da 3M, destacou um dado preocupante da pesquisa SOSI: um terço dos brasileiros admite ser cético em relação à ciência – um aumento de 5% desde o início da pandemia.
“Uma parte desse resultado vem do bombardeio de desinformação, principalmente pelas mídias sociais. Apesar de acreditarem em ciência, nem todas as pessoas entendem a dimensão na vida delas, como isso é aplicado no dia a dia”, afirmou.
A Diretora de Inovação e Negócios do IPT, Claudia Teixeira, voltou a falar sobre a importância da representatividade, de haver pessoas conhecidas e confiáveis para transmitir informação com credibilidade.
“O pesquisador não é preparado para a comunicação, não é fácil traduzir o conhecimento técnico. Esse é um enorme desafio.”
Outro aspecto levantado no painel foi sobre a inovação aberta. Essa proposta colaborativa não é novidade e tem se mostrado muito eficiente.
“O IPT foi pioneiro em abrir as portas da instituição pública para criar um ecossistema de inovação, trazendo empresas para conviver conosco e melhorar a comunicação com a população”, afirmou Claudia.
Para provocar um final surpreendente, subiram ao palco as vencedoras da 9a Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto 3M. O projeto foi criado para incentivar o espírito científico e a criatividade de estudantes nas escolas.
As alunas Keyth Oliveira, Kathleen Domingos e Beatriz Hildebrand, orientadas pelos professores Aber Galhardo e Renata Braga, criaram o aplicativo “Será que é Amor?”, para conscientizar adolescentes e jovens sobre as características de um relacionamento abusivo por meio de um jogo.
Emocionadas, as jovens reforçaram a importância do investimento em ciência na escola e comemoraram a conquista, ressaltando que pretendem seguir carreira com pesquisa, representando as mulheres, abrindo mais espaço e fazendo a diferença, recebendo longos aplausos e incentivos entusiasmados da audiência.
Para ter acesso aos dados completos da pesquisa global encomendada pela 3M, acesse www.3m.com/scienceindex.
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